Por Observatório do Clima
A pouco mais de duas semanas da COP30, o governo brasileiro aprovou, nesta segunda-feira (20), a licença para perfuração de petróleo no bloco FZA-M-59, localizado na bacia sedimentar da Foz do Amazonas.
A medida provocou forte reação de entidades ambientais e movimentos sociais, que classificaram a decisão como uma sabotagem à conferência do clima e um retrocesso nas políticas ambientais do país.
Segundo o Observatório do Clima, a decisão vai na contramão do papel de líder climático reivindicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário internacional e cria embaraços diplomáticos para André Corrêa do Lago, presidente da COP30, que deverá explicar o ato aos parceiros internacionais.
Críticas e reações
Organizações da sociedade civil afirmam que o processo de licenciamento apresenta ilegalidades e falhas técnicas, que poderão ser questionadas na Justiça. Elas também destacam que a exploração de novos campos de petróleo contraria as metas globais para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C.
“Lula acaba de enterrar sua pretensão de ser líder climático no fundo do oceano da Foz do Amazonas”, declarou Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima.
A diretora-executiva do Instituto Arayara, Nicole Oliveira, classificou a decisão como “claramente política, não técnica”, afirmando que “o valor de uma sonda jamais pode se sobrepor ao valor da vida e da biodiversidade”.
Amazônia em risco
O climatologista Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia, alertou que a região está próxima do ponto de não retorno e defendeu o fim da exploração de combustíveis fósseis. “Não há justificativa para qualquer nova exploração de petróleo”, afirmou.
O físico Paulo Artaxo, integrante do IPCC, reforçou que o Brasil deveria priorizar energias renováveis. “Temos potencial para ser uma potência mundial em energia solar e eólica. Investir em petróleo é um passo atrás”, destacou.
Compromissos climáticos
A COP30, que será realizada em Belém (PA), tem como principal pauta a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e a aceleração da transição energética justa.
A decisão do governo de liberar a exploração na Foz do Amazonas coloca em xeque o discurso de liderança climática que o Brasil tem buscado consolidar no cenário internacional.