Mais de 2,6 mil atos foram realizados em todos os 50 estados; manifestantes denunciam autoritarismo e mobilização de militares em cidades democratas
Milhares de pessoas saíram às ruas neste sábado (18/10) em diversas cidades dos Estados Unidos para protestar contra o que consideram uma escalada autoritária do presidente Donald Trump, no que já é apontado como o maior protesto contra o republicano desde o início de seu novo mandato, em janeiro.
De acordo com os organizadores, mais de 2,6 mil atos foram convocados por cerca de 200 organizações, abrangendo todos os 50 estados norte-americanos, sob o lema “No Kings” (“Não queremos reis”).
A mobilização busca denunciar medidas do governo consideradas autoritárias e defender a democracia.
A rodada anterior de protestos, realizada em 14 de junho, reuniu cerca de 5 milhões de pessoas em 2,1 mil atos pelo país. A nova manifestação ocorre em meio à paralisação do governo federal, que já dura três semanas e tem afetado serviços públicos e programas sociais.
CRESCENTE TENSÃO POLÍTICA
O clima político nos EUA é de forte tensão, especialmente após a decisão de Trump de mobilizar militares em cidades governadas por democratas, sob a justificativa de combater o crime e apoiar operações de imigração.
Entre as principais pautas dos manifestantes estão a oposição às prisões de imigrantes, aos cortes em programas de saúde, e às mudanças em distritos eleitorais que, segundo opositores, favorecem o Partido Republicano nas eleições legislativas de 2026.
Os protestos ocorreram em pontos simbólicos como a Times Square, em Nova York, o Capitólio, em Washington D.C., e o centro de Chicago, onde já vinham ocorrendo manifestações contra operações de deportação.
Também houve atos em Atlanta, Boston, Honolulu, Houston, Nashville, Nova Orleans, San Diego e San Francisco.
Cidades europeias como Berlim, Paris e Roma também registraram manifestações de solidariedade ao movimento americano.
REAÇÃO POLÍTICA
Enquanto os protestos seguiam de forma pacífica, aliados de Trump alertaram para possíveis distúrbios.
O governador do Texas, Gregg Abbott, ordenou a mobilização da Guarda Nacional em Austin para prevenir episódios de violência.
O presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson (Partido Republicano), afirmou que os atos representam uma “demonstração de ódio contra os Estados Unidos”, supostamente liderada por simpatizantes do Hamas e membros do movimento Antifa, recentemente classificado por Trump como organização terrorista.
O nome do movimento, No Kings, faz referência à percepção de que o presidente estaria agindo como um monarca, contrariando os ideais fundadores da independência americana, de 1776, que rejeitavam o poder absoluto de um soberano.
“Dizem que me comporto como um rei. Não sou um rei”, declarou Trump em entrevista à emissora Fox News, na sexta-feira (17).
O presidente ainda acusou os democratas de atrasarem as negociações para destravar o orçamento federal, paralisado desde 1º de outubro, com o objetivo de “incitar os protestos”.
Já a oposição acusa Trump de violar a Primeira Emenda da Constituição, que garante a liberdade de expressão, ao tentar calar vozes críticas ao seu governo — como no caso da pressão da Casa Branca sobre o programa do comediante Jimmy Kimmel, que havia ironizado republicanos após o assassinato do ativista Charlie Kirk, em setembro. O programa acabou retornando ao ar uma semana depois.